Quando a gente nem chega a pedir demais

O que anda ficando meio comum na minha vida são os processos de desapaixonização. Não sou de me apaixonar fácil, mas quando acontece, geralmente acho que vai durar. A minha paixão e a do alheio. Mas deve ter algo de errado com os anjos responsáveis por fazer esse esquema funcionar legal. Porque além de eu vir me enganando com a durabilidade, tenho me enganado também com o alheio.
Não é que as paixões não tenham sido medianamente correspondidas, mas sempre tem ocorrido de eu chegar (cedo demais) naquele ponto: “puxa, isso não vai dar certo (de novo), acho melhor esquecer, deixar pra lá, parar de procurar.” Pra coisa ir passando mesmo, sabe, até cair no esquecimento e virar só lembrança (dessa forma contraditória mesmo). Só ex-paixão. Isso é realmente um saco. Estaria eu me tornando uma vítima das minhas próprias escolhas?
Na verdade, o pedido que eu jogo pro infinito não é o de um marido, correto, que queira comigo constituir uma família, que queira se mudar para uma cidade tranqüila no interior, que queira ter um cachorro, um jardineiro, etc. Não estou pedindo um cara com uns cinco anos a mais do que eu, empresário financeiramente estável. Não estou escolhendo vestido de noiva nem músicas que quero ouvir tocar na igreja no dia mais importante da vida de uma mulher. Nada disso, não estou pedindo nada disso e posso afirmar. Não tenho vontade nenhuma (ainda) de ser mãe (e como poderia, aliás?). Não quero morar no interior. Não quero marido, correto ou incorreto.
O que eu peço? Peço alguém que dê liga, que faça surpresas. Que ligue de madrugada, que apareça naquela noite boba de terça-feira, em casa, ou um chopp, no bar. Que me grave um CD, que goste do meu cabelo de qualquer jeito, que goste de Chico Buarque (ou que seja o Chico Buarque). Que dê risada das minhas bobeiras e que faça algumas pra eu poder rir também. Que tenha o meu swing , ou que chegue o mais próximo possível dele, pra também não perder as tais surpresas. Que me acarinhe tanto quanto ou mais do que eu a ele. Nunca menos. Que me leve, que me busque, ou que vá comigo. Que deixe eu dirigir o seu carro. Que faça os bons momentos se repetirem. Que não tenha pressa, nem medo.
E isso parece ser pedir demais. Talvez seja mesmo. Porque eu nem chego a ter tempo de pedir, quando me encontro no primeiro estágio da desapaixonização, que vai desde a doação de CDs até a exclusão do nome dele do celular e do Messenger, pra não cair em tentação.
E assim a vida corre. Entre paixões, ex-paixões, perda de peso, aumento de peso. É que toda vez que eu começo a comer bem de novo, e começo engordar, percebo que o processo de desapaixonização foi bem sucedido. E aí já é hora de me apaixonar de novo. Puxa, que vida dura essa. A cada processo de desapaixonização eu vou perdendo um pouco a crença de que paixão vira amor. Ou vira simplesmente uma paixão que durou. Que não precisou ser abortada antes da hora, porque eu percebi, cedo demais, que aquilo ia acabar não funcionando.

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